Sabesp é Imunda!

Coluna MARCOS ROSSI – Jornalista e Ambientalista – atlanticafilmaes@globo.com

Publicado no Jornal  O Pardal edição nº 3

 

O governo da Índia tenta extinguir, sem resultado, uma pratica cultural abominável. Existe naquele país uma casta social com mais de um milhão de pessoas que se ocupa a retirar nos domicílios as fezes das pessoas das castas mais nobres. São chamados bhangis, a maioria é de dalits, a casta mais baixa e marginalizada daquela sociedade, os chamados “intocáveis”, condenados às tarefas consideradas abaixo da dignidade das castas superiores. É assim, vão até as casas e com cestos retiram as fezes das pessoas e levam sobre as cabeças para um determinado local onde são depositadas.
Para a nossa cultura esta atitude dos indianos parece ser repugnante ou nojenta, que nos causa certa perplexidade e perguntamos, como pode isto acontecer?
Pois bem, aqui no Estado de São Paulo, o mais desenvolvido do Brasil, a coisa é bem pior. A Sabesp, empresa de capital misto, faz coisa semelhante com apoio do governo e da sociedade. A Sabesp coleta em nossas casas as fezes e os demais dejetos, o esgoto, e joga em nossos rios. Quem não conhece o Rio Tiete, o Rio Pinheiros, a represa Billings, a Guarapiranga, o nosso Rio São Lourenço entre outros? São esgotos a céu aberto que correm por nossas cidades exatamente levando as fezes de nossas populações.
O que é pior? Quem é mais imundo? Os indianos que levam as fezes das pessoas para um depósito ou a Sabesp que joga estas fezes, o esgoto, em nossos rios?
A Sabesp é imunda, muito mais que esta inocente casta indiana. O que esta empresa faz é crime lesa-pátria, crime contra a humanidade, incorrigível. Este crime expõe a vida de todas as pessoas, em especial as crianças.
A não universalização dos serviços públicos de saneamento básico está diretamente ligada a epidemias de doenças, como esquistossomose, febre amarela, febre paratifoide, amebíase, ancilostomíase, ascaridíase, cisticercose, cólera, dengue, disenterias, elefantíase, malária, poliomielite, teníase e tricuríase, febre tifóide, giardíase, hepatite, infecções, e vai par aí a fora.
Trinta e três bairros de São Paulo, entre eles Morumbi, Vila Mariana, Santo Amaro e Ipiranga, ainda despejam parte de seu esgoto no Rio Tietê. Eles não têm a rede das casas ligada aos coletores-tronco que levam os dejetos para estações de tratamento. Também fazem parte da lista Jabaquara, Aricanduva e Casa Verde. Na Região Metropolitana de São Paulo, 16 cidades apresentam o mesmo problema. São ao menos 3,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo sem esgoto tratado. O número se refere apenas aos 34 municípios da região atendidos pela Sabesp. Os municípios de Francisco Morato, Itaquaquecetuba, Barueri, não tratam uma única gota de esgoto. Diadema, São Bernardo e Itapevi não tratam 70% do esgoto e os demais municípios estão quase na mesma situação. A Sabesp joga tudo nos Rios que cortam estas cidades.
A Organização Mundial da Saúde indica que cada um real aplicado em saneamento básico alivia em quinze reais os custos com o sistema de saúde. Isto, sim, é a grande reforma que o sistema previdenciário e de saúde precisa para derrubar seus custos. Veja o tamanho do prejuízo que a Sabesp pela sua incompetência e irresponsabilidade causa ao nosso SUS. Os acionistas da Sabesp estariam dispostos a pagar esta conta? Se fossemos quantificar isto, seria um valor maior que o da empresa Sabesp. Portanto ela somente existe porque nos estamos dispostos a pagar esta conta bilionária com dinheiro e vidas incalculáveis.
A Sabesp após sua “privatização” obrigou-se a dar lucro e pagar dividendos aos seus acionistas nacionais e internacionais. As ações da Sabesp valorizaram cerca de 601% em 10 anos, enquanto o Dow Jones subiu apenas 29% neste período na Bolsa de Nova York onde foi pago até 60% dos lucros (payout) aos seus acionistas. Atualmente, seu capital está assim dividido: 50,3% nas mãos do Governo do Estado de São Paulo, 24,9% na NYSE e 24,8% com acionistas na BM&FBovespa. Foi até homenageada na Bolsa de Nova York. Isto na pratica comprometeu totalmente as possibilidades de investimentos nas obras de saneamento básico que tem piorado ano a ano.
O grande erro foi abrir o capital da Sabesp nas Bolsas de Valores de São Paulo e Nova York. Em duas oportunidades, 2002 e 2004, ela arrecadou cerca 1,2 bilhões de reais que foram parar nos cofres do Governo do Estado. Uma tal CPP (Companhia Paulista de Parcerias), você conhece? Nem eu. Esta empresa ficou com a metade. Ninguém responde até o momento qual o investimento feito pela Sabesp com a venda destas ações.
O superintendente de gestão ambiental da Sabesp, Wanderley da Silva Paganini, criticou a abertura de capital feita pela empresa em 2002, durante seminário sobre a crise hídrica na Procuradoria Regional da República da 3ª. Região, na zona sul da capital. Disse ele, “No meu ponto de vista, não deveria ter vendido (ações no mercado financeiro). Pode ser até que eu perca meu emprego pelo que estou falando, paciência. Eu prefiro estar em paz com a minha consciência. Porque acho que saneamento tem que ser suprido pelo poder público”.

Para universalizarmos o esgoto em todo Brasil, algo que se imagina acontecer até o ano de 2033, fala-se até em 2050, seriam gastos cerca de 500 bilhões de reais. Muito bem, este valor é o que pagamos em dezoito meses somente em juros da dívida publica do Brasil. Este dinheiro todo que resolveria o maior problema brasileiro em apenas um ano e meio vai alimentar o sistema financeiro, os bancos e outros credores que sequer sabemos quem são e se esta dívida realmente existe. O Brasil gasta dez vezes mais com o pagamento desta divida pública que com educação e saúde. Ninguém quer auditar esta divida. Um país pode prosperar assim? Infelizmente, enquanto poucos se alimentam da riqueza nacional a outra quase totalidade das pessoas…, desculpem o termo, parece desabafo, mas é literal e verdadeiro: Nadamos na “merda” que a imunda Sabesp distribui em nossos rios.

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