Miguel Díaz-Canel é confirmado como novo presidente de Cuba
Candidato único foi aprovado pela Assembleia Nacional após dois dias de debate
Foto do líder cubano Raúl Castro com o recém-nomeado novo presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel – ISMAEL FRANCISCO / AFP
HAVANA – O primeiro vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, Miguel Díaz-Canel, foi confirmado nesta quinta-feira como novo presidente do país, que vai suceder o líder Raúl Castro. O nome do candidato, único a ser indicado, foi apresentando na Assembleia Nacional de Cuba na quarta-feira, quando deu-se início a sessão parlamentar para avaliar a indicação. Após deliberação dos 604 conselheiros, ele foi eleito como novo chefe de Estado da ilha.
— O mandato dado pelo povo a esta legislatura é dar continuidade à revolução cubana em um momento histórico crucial, que estará marcado por tudo o que devemos avançar na atualização do modelo econômico — disse ele em seu primeiro discurso após ser empossado como governante.
A decisão não foi uma surpresa, já que o engenheiro Díaz-Canel era o candidato único em um país socialista. O cargo de primeiro vice-presidente será ocupado agora por Salvador Valdés Mesa. Além destes dois cargos, outros 28 nomes foram escolhidos para compor o Conselho de Estado, sendo 11 novos integrantes.
“Miguel Mario Díaz-Canel, de 57 anos, foi eleito Presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros da República de Cuba pela recém-constituída Assembleia Nacional do Poder Popular em sua Nona Legislatura, que faz sessão desde quarta-feira no Palácio de Convenções de Havana”, informou o blog oficial Cubadebate.
A data de 19 de abril, escolhida para a sucessão histórica, corresponde ao 57º aniversário da vitória cubana na Baía dos Porcos, quando foram derrotadas as tropas anticastristas arregimentadas e armadas pelos Estados Unidos que tentaram invadir a ilha e derrubar o governo revolucionário. Cuba a considera “a primeira derrota do imperialismo na América Latina” em 1961.
Em Havana, há expectativa para que o sucessor de Raúl continue a implementar as reformas econômicas que a ilha enfrenta desde 2008. Espera-se, por exemplo, que o novo governo possa acelerar a unificação das duas moedas com as quais o povo cubano convive, o que gera grande distorções na vida da população.
RAÚL AINDA PRESENTE
Raúl Castro, de 86 anos, encerrará uma era em Cuba ao passar o poder a um sucessor mais jovem, 12 anos depois de suceder seu irmão mais velho Fidel Castro, que deixou a Presidência oficialmente em 2008, dois anos depois de se licenciar por razões de saúde, e morreu em 2016. O caçula dos irmãos Castro não renunciará a todas as suas funções. Ele continuará atuando como secretário-geral do Partido Comunista de Cuba (PCC) até 2021.
O processo indica que a transição será suave e paulatino: além da manutenção de Raúl Castro no comando do Partido Comunista Cubano ao menos até 2021, a escolha da elite política da ilha indica que não foi completada a transição geracional que se esperava com o primeiro presidente nascido após a revolução socialista de 1959.
Com 31 membros, o Conselho de Estado tem sete cargos principais: presidente, primeiro vice-presidente, e outros cinco vices. Da cúpula, quatro têm até 57 anos — ou seja, nasceram após a revolução — e três têm mais de 71, representando a velha guarda, conhecida em Cuba como “os octogenários”. Isso além do posto que Raúl manterá.
REAÇÕES EXTERNAS
Aliado de Cuba, o presidente venezuelano Nicolás Maduro expressou seu apoio a Díaz-Canel:
– Vou visitar o companheiro Miguel Díaz-Canel em breve para cumprimentá-lo. Todo nosso apoio a Miguel Díaz-Canel, todo apoio a Cuba e toda gratidão a Raúl — declarou Maduro em transmissão ao vivo no Facebook. — Meus cumprimentos ao companheiro Raúl Castro Ruz, porque ele conduziu Cuba impecavelmente durante todos esses anos. Impecável. Meus cumprimentos e gratidão a Raúl.
O presidente chinês Xi Jinping também parabenizou Díaz-Canel pela eleição.
1958-1959: Revolução
Fidel e Raúl Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e companheiros de guerrilha fazem o ditador Fulgencio Batista fugir de Cuba em 1º de janeiro de 1959 após uma insurgência que durou anos de tentativas e treinamento. Instalado, o novo governo expropria uma série de bens privados e se aproxima do socialismo da União Soviética.
Dias após a consolidação da Revolução, em janeiro de 1959, Fidel e Che (direita) conversam em Havana Foto: Arquivo